quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Brasileiros que chegaram à universidade são 11% da população


Brasileiros que chegaram à universidade são 11% da população



Pouco ensino trava o desenvolvimento
Paulo Silva Pinto, Priscila Oliveira, no Correio Braziliense, reproduzido no site da UNB, sugerido pela Sec Geral do MST

Falta de profissionais com formação superior ou técnica no mercado impede o país de crescer mais rapidamente
O que é preciso para o Brasil superar taxas pífias de crescimento econômico, como a do ano passado? A pergunta que muita gente se faz dentro e fora do governo foi respondida na semana passada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central. Na ata da primeira reunião do ano, o Copom sugere que a taxa básica de juros permanecerá em 7,25% por algum tempo, porque, para segurar a inflação, o grande problema hoje está nas “limitações no campo da oferta.” Também menciona a “estreita ociosidade do mercado de trabalho” como um problema.
Para muitos economistas, o Brasil poderia crescer mais, de maneira sustentável, se tivesse melhor infraestrutura, mas também mais gente qualificada. “Todas as economias que se tornaram desenvolvidas têm uma porcentagem grande de jovens que completaram o ensino superior”, afirma José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista da Opus Investimentos. O Brasil está na rabeira de outros países quando se trata de nível de escolaridade.
Relatório sobre educação divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em setembro do ano passado mostra que o país está na 38ª colocação entre 40 nações quando o assunto é educação superior. Somente 11% da população entre 25 e 64 anos de idade atingiram esse patamar educacional, quando o recomendável é, ao menos, 31%.
É verdade que a China tem uma proporção ainda menor que a nossa. Mas ali o importante é que a fatia é tirada do total de 1,34 bilhão de pessoas. “Em ciência, o número absoluto conta mais do que o percentual”, alerta o economista Cláudio de Moura Castro, especialista nas relações entre educação e desenvolvimento. O Brasil, mesmo com um percentual pequeno de diplomados, tem uma população relativamente grande quando comparada à de outros países latino-americanos. “Por isso, a revolução verde ocorreu aqui e não em outro lugar”, diz ele, referindo-se a pesquisas que impulsionaram a produtividade da agricultura brasileira.
No que o Brasil fica muito atrás da China e de outros países asiáticos, porém, é no número de formados em ciências exatas, profissionais que podem fazer a diferença para a indústria, tanto para a inovação quanto para a implantação de processos que permitam maior produtividade. De cada 100 pessoas com diploma universitário na China, 36 são engenheiros. No Brasil, são cinco. “Temos um número exorbitante de pessoas com formação em direito”, assinala o economista Rafael Lucchesi, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Segundo Lucchesi, isso só não se transformou em um grande problema porque a indústria não consegue crescer mais, devido a razões que – discordando do Copom – ele atribui aos juros ainda altos e à elevada carga tributária, entre outros fatores.

Conhecimento
Quanto à “estreita ociosidade do mercado de trabalho”, porém, não há dúvidas. Faltam profissionais qualificados e, por isso, a resposta dos patrões é premiar com salário maior a escassez: em toda a população, 6,4% das pessoas ganham mais de cinco salários mínimos, mas, das que possuem diploma universitário, são 33,9%. Moura Castro chama a atenção para o fato de que esse diferencial é pequeno para os recém- formados: de 20% a 30% de aumento na renda. Só após alguns anos de atuação é que a renda cresce muito mais, demonstrando que o mais importante da formação não é o conhecimento acumulado, mas a capacidade de incorporar novos conhecimentos. “A educação é a ferramenta que permite à pessoa aprender de forma mais eficiente ao longo da vida”, explica.
O economista pondera, no entanto, que, exatamente por esse mecanismo do prêmio salarial do mercado, a tendência é que, à medida que mais pessoas se formam, menor seja o acréscimo salarial proporcionado pelo diploma. “E vai contar cada vez mais a qualidade, a vantagem de quem saiu de uma instituição melhor do que as outras.” O chamado “credencialismo”, que proporcionava privilégio à pessoa só pelo diploma universitário, mas não pela formação em si, é hoje muito menor do que no passado, segundo ele, e tende a desaparecer no futuro.
A julgar pelo prêmio da diferença salarial, o que mais vale a pena hoje é um curso técnico de 18 a 24 meses. Pesquisa do Senai incluindo 21 profissões, em 18 estados, demonstra que os recém-formados têm salário de R$ 2.100 em média e, depois de 10 anos, de R$ 5.700, bem acima do que se consegue com a maior parte das profissões universitárias. “Faltam profissionais com formação técnica no Brasil”, afirma Débora Barem, especialista em mercado de trabalho e professora da Universidade de Brasília (UnB). A boa notícia é que a procura por esses cursos tem aumentado, assim como a oferta de vagas por entidades do Sistema S, do governo federal e mesmo de governos estaduais e municipais.

Experiência
O empresário Guilherme de Sousa Freire, 29, é um exemplo de que o ensino técnico e a experiência podem ser um trampolim para o mercado. Nascido em uma família de empreendedores, ele uniu a experiência adquirida a três cursos técnicos na área de empreendedorismo e gerência para abrir uma loja de roupas, há cerca de nove anos. Somente quando o negócio estava estabilizado, Guilherme decidiu fazer uma faculdade. No fim do ano, ele se forma em artes plásticas pela Universidade de Brasília. “É claro que a faculdade é uma ótima fonte de conhecimento e atualização. Mesmo com muita teoria em mãos, no entanto, no mercado de trabalho a pessoa se destaca pela competência pela experiência. Hoje, com o currículo que eu tenho, acredito que possuo mais chances no mercado na área de administração do que uma pessoa que acabou de sair da universidade”, diz. “Ser qualificado não significa, necessariamente, ser formado”, completa.
Já a estudante Luciely de Lima Alves, 21 anos, viu na união dos cursos superior e técnico a melhor alternativa para aumentar as chances na hora de conseguir um emprego. Ainda no terceiro semestre da graduação em engenharia civil, ela já terminou um curso técnico na área de segurança do trabalho pelo Senai e tem no currículo uma participação na Olimpíada do Conhecimento, a maior competição de educação profissional da América Latina.
Luciely conta que a motivação para ingressar em um curso técnico veio dos próprios colegas de faculdade. Como ela estuda à noite, na sua turma, há vários alunos que são donos de construtoras pequenas e pessoas que trabalham na área de construção civil e aproveitam o período noturno para estudar. “Durante uma das conversas entre as aulas, eles explicaram que, com o curso técnico, a entrada no mercado de trabalho é mais fácil. Como eles já têm experiência na área, conhecem como funciona. Por isso, comecei a pesquisar e acabei ingressando no Senai”, diz.
A estudante, porém, não abre mão do curso superior. Mesmo prestes a entrar para a Engenharia, Construções e Ferrovias S.A (Valec) como técnica, ela quer se formar e, logo em seguida, ingressar em uma pós-graduação. “O curso técnico foi importante porque pretendo seguir essa área de segurança do trabalho, futuramente. Mas a graduação é fundamental para quem quer continuar crescendo, tanto na parte do conhecimentos quanto na de remuneração. O nível salarial sobe muito. Um engenheiro graduado na minha área recebe o triplo ou mais do que eu vou ganhar como técnica”, afirma.
Há oportunidades para todos além do diploma. Com apenas 22 anos, Gustavo Fernandes é um exemplo. Ele já tem o próprio negócio, ganha o suficiente para manter o padrão de vida almejado e já está se preparando para comprar uma casa. Com a ajuda de um sócio, o tatuador abriu um estúdio em Brasília e fatura entre R$ 150 e R$ 700 por tatuagem.
Apesar de já ter começado um curso superior, Gustavo, que fez dois semestres de psicologia, abandonou a graduação para buscar uma oportunidade diferente. Para aprender o ofício, ele passou dois anos trabalhando em estúdios de profissionais mais experientes, um deles no Peru. “Faculdade é importante, mas não é o único caminho para ter sucesso financeiro”, diz.

Fonte: http://www.viomundo.com.br/politica/brasileiros-que-chegaram-a-universidade-sao-11-da-populacao.html

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